quarta-feira, 28 de outubro de 2009

uma estrela cadente

faz hoje três meses eu estava sentada na mansão às cores da Roda Viva a preparar a actividade do dia seguinte. tinha um cansaço que me consumia a capacidade de concentração, ainda assim, com muito esforço, trabalhei até perto das 3 da manhã.

chorei agarrada ao Mike. não me lembro qual era a tristeza daquele dia, ou talvez me lembre agora que penso nisso. os miúdos mais velhos estavam a ter a festa de despedida, aquilo mexeu comigo -um deles, o mais velho, que já me conhecia de outros campos, confidenciou-me debaixo de um céu estrelado que ia ter saudades.
e eu disse-lhe que todos os anos tenho saudades do que vivi nos campos de férias.
todos os anos eu tenho saudades de qualquer coisa que nunca mais vai voltar a ser como era.

aquele céu cheio de estrelas olhou pela última vez para um pescoço sem marcas.
o Pedro ouviu da minha boca o que eu não digo muitas vezes.
o Zé recebeu um mail que deixou de fazer sentido passado muito pouco tempo... e eu escrevo ainda assim mais e mais.

as palavras perderão o sentido com o passar do tempo?
os sentimentos perderão o sentido com o passar do tempo?

a Maria daquela noite nem sonhava que se ia lembrar tão bem dos últimos minutos daquela noite, nem sabia que na manhã seguinte ia ser a última do Verão em total liberdade, nem podia supor que se estava a despedir de uma inconsciência feliz. foi-se deitar e dormiu.
acordou, tomou um longo e merecido banho, tomou o pequeno almoço sem grande pressa e saiu.

não voltou.
nessa noite, não dormiu e teve medo.
estava no hospital

sábado, 24 de outubro de 2009

Obrigada Tertúlia

Faz hoje 13 semanas que deixei o hospital, as fraldas e os catéteres...
Sabe tão bem estar em casa juntos dos que mais gostamos, é tão bom reunir à mesa as amigas e falar sobre tudo e sobre nada e deitar a cabeça na almofada consciente que há pessoas que vieram à Terra para partilhar a simplicidade de um sorriso.

Obrigada Tertúlia!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

e no silêncio da chuva, na calma do Canto del Loco... há umas lágrimas que se soltam e um nó que se desfaz aos poucos.

Galliano
Colecção Outono/Inverno 2009

Habemus Galliano

Senhoras e Senhores, Meninos e Meninas:

HABEMUS GALLIANO

É com o maior das alegrias que comunico que temos Galliano. Hoje, aquando da consulta o Dr. Gonçalo disse-me:

-"Excluímos assim a hipótese da operação e estamos no bom caminho."

Eu sei que ainda não estou boa, que continuo no convento mais um mês, que daqui até Abril são seis meses... mas eu estou a ficar boa e isso é a minha bandeira nestes dias.

Finalmente o medo que me consumia o peito, me espartilhava a esperança foi-se, eu sabia, hoje de manhã quando acordei sabia, bem cá dentro, que as coisas estavam melhores. Senti dentro de mim o que senti no dia do acidente: não é desta que me arrumam, e não foi.

E sabem o que é o melhor de tudo? É sentir que a montanha que estou a escalar só me serve para aprender a ser uma pessoa mais calma, mais ponderada e mais agradecida por cada momento em família, por cada abraço amigo, por cada beijo sentido. A dádiva da vida é tão preciosa que não se escreve nem se descreve... procuro e não encontro as verdadeiras palavras que possam descrever a minha alegria.

Tinha à minha frente o responsável que tomou as decisões que me mantiveram longe do bloco, bem longe das agulhas, dos enxertos, dos parafusos internos, tinha comigo a minha Guerreira Mãe que me manteve de cabeça e espírito erguido, arranjando sempre as palavras certas nos momentos certos, e tinha a pessoa que chorou por todos e que ainda assim arregaçou as mangas e me mimou o mais que pode: a minha sempre amiga Inês e também minha enfermeira preferida.
Ríamos todos de alegria e mais do que alegria ríamos de gratidão. Os quatro. Ali.


Foi uma vitória colectiva, só possível com a ajuda de todos, só vencida com as armas que se foram erguendo dia-a-dia, sei que sozinha não tinha conseguido. E agora só me ocorre que ainda ontem estávamos a rezar por um milagre.
Obrigada uma vez mais a todos. E todas as vezes que eu agradecer vão ser poucas, e cada vez que eu me emocionar com as palavras de apoio nunca vai ser demais. Juntos somos mais e melhores, eu acredito que juntos somos mais e melhores!

Já tomei um valente banho, lavei o cabelo bafiento e esfreguei o sarro que tinha... ainda não estou cheirosinha, nem limpinha, mas estou quase! E o quase de hoje é bem mais do que o de ontem.

Sinto-me capaz de domar a vida com um simples dedo.

Beijinhos e Abracinhos,
Mary Drácula

terça-feira, 20 de outubro de 2009

depois das fraldas, das algálias, dos catéteres, das cadeiras de rodas e afins...

bora todos fazer figas para ver se o Prada vai à vida dele amanhã e eu estreio o meu modelito Galliano, bora?

vá lá! junta-te a esta causa e ajuda-me nas figas!

domingo, 18 de outubro de 2009

há em mim um medo que cresce de dia para dia, um medo que veio pé ante pé, chegou, instalou-se, veio para ficar mas não avisou.
houve tantas coisas na minha vida que cresceram de dia para ida, que chegaram pé ante pé, que se instalaram e não avisaram. eu diria que houve demasiadas coisas assim.

72 horas para regressar ao Egas, voltar a passar o portão do hospital, olhar de soslaio os doentes da ala contagiosa - gostava de falar com um deles, dar-lhes um abraço forte (se eu pudesse dar abraços...), sair do carro a medo, entrar naquele átrio novo onde faz a corrente de ar da vida, dar entrada, atravessar os corredores que ainda não decidiram se nos vão contagiar com Gripe A ou se nos vão deixar sair ilesos, procurar uma cadeira, constatar que não há cadeira mas que logo se levantam uma serie de pessoas para me ceder o lugar, sentar-me, constatar que ainda falta imenso tempo.

o medo que vai tomar conta de mim. passaram quase três meses, há quase três meses este dia era lá muito longe, ele está a chegar e eu tenho medo. de tantas coisas e de nada. tenho medo que as expectativas saiam defraudadas, tenho medo de não estar boa, tenho medo de ter que ser operada... porra tenho medo.

dei-me demasiado tarde conta de que tenho medo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

de repente faltam 10 dias para voltar a ir ao médico... às vezes é bom fazer contas!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quem tem medo compra um cão...



Tenho medo da trovoada, não gosto de tar sozinha em casa quando fica de noite, não gosto de não ter companhia para passear, não gosto de chegar a casa e ficar a vaguear e a falar sozinha...enfim...eu também tenho medo, e eu quero um cão!


Beijinhos,

Paulinha


P.S - Entre muitas e muitas outras razões eu sempre quis um cão, mas como esta é a maior batalha filhos vs pais que alguma vez existiu, vou continuar a esperar pelo momento em que vou ter a minha casinha e a primeira coisa que lá vai entrar não vai ser uma mobilia, mas sim o MEU Grandanois!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

....

Perguntei à minha Mãe se não podíamos ir todos dar sangue no próximo Sábado, estão à procura de um dador de medula compatível com um menino de 6 anos.

Respondeu-me que sim, eu entusiasmei-me e perguntei:

- "Posso doar medula óssea, não posso?" - dadas as circunstâncias achei por bem verificar...

- "Medula sim, óssea não sei se a tens!"


Há por aqui um humor negro que me escapa.

****


O médico radiologista veio ter comigo à maca da Tac e perguntou-me:

- "Nunca tira isso? Nem para tomar banho?"

- "Nunca, há dois meses e uma semana que nunca tiro isto, nem para tomar banho"

Fugiu de mim e nunca mais o vi...

Há por aqui uma falta de apoio às pessoas que vivem em comunhão de bens com um artefacto porquê?


****

A Senhora minha Avó passeia-me todos os dias, ou será que sou eu que passeio a Senhora minha Avó todos os dias?

****

Já repararam que entrámos em contagem decrescente para a troca de modelito? Ainda este mês devemos passar de Prada a Galliano.

É impressão minha ou estou na 10ª semana do calvário? :)


Não percam de vista estas considerações, podem ser de extrema importância.
Saudações robóticas,
Marycop

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O que nos une!...

Diálogo no MSN entre Margarida Bragança e Maria Elyseu:

"I say:
ontem, entre a meia noite as 2h, já passou o bastante
marycop says:
sim
marycop says:
o bastante
I say:
o demasiado, provavelmente, vamos ver
marycop says:
ah deixa-te disso
marycop says:
foi o necessário
I say:
necessario claramente não foi!
I say:
foi o mais do que a conta...
marycop says:
ah deixa-te de vocabulário
I say:
ok!...
marycop says:
;) "


...lol!

Bj
Margarida

Babei-me!

Babo com homens com jeito para crianças! Tremem-me as pernas!…
E com o T2+1 não haveria de ser diferente!
Crianças eram 4! Dos 15 meses aos 6 anos ali estiveram felizes e contentes!
Com 100m2 de área brincável, desimpedida de quaisquer obstáculos, despida de “não me toques” e de “cuidados”, o T2+1 esteve à altura! Haverá algo melhor que uma casa vazia cheia de pó para gatinhar, atirar bolas ao ar e fazer pistas com os carrinhos?! Não!
É com enorme orgulho que anuncio que o T2+1 mais mimado do mundo-e-arredores passou no teste! Babei-me!
Estou muito feliz! O meu T2+1 é KIDSFRIENDLY!!
Bj
Margarida

A primeira vez...

Não deu pra esperar mais…despidos de preconceitos…foi mesmo no chão!...
Não tens vergonha? !Perguntam uns…Mas isso é super desconfortável!! Exclamam outros…
Sim! Pode até ser! Mas não dava mais…Teve de ser…
Sonhei com isto tantas vezes!...Um momento especial como este não se coaduna com pormenores desleixados ou sequer simplesmente menos pensados! Queria velinhas, faqueiro a luzir, guardanapos de linho…
Mas não!…As velas foi porque faltou a luz, o faqueiro foi de plástico e os guardanapos de papel!
Foi o primeiro lanche de família no T2+1 mais mimado do mundo-e-arredores! Não faltou nada! Pó por todo o lado, pastéis e bolinhos da Chique de Belém, café da máquina nova…Tudo!
Muito bom! A repetir!
BJ
Margarida

terça-feira, 6 de outubro de 2009

sábado, 3 de outubro de 2009

Prada vs Vaidosice

Perguntam-me o segredo, não sei.
Perguntam-me como é possível, não sei.
De verdade, não sei.

Ontem, num dos meus momentos de Oprah Winfrey Show a conversa centrava-se nas doenças que afectam o aspecto físico das pessoas e como isso influencia a maneira como os outros nos olham.
Eu não tenho uma doença sem cura, eu nem tenho nenhuma doença. Mas eu sinto todos os dias esses olhos que se deitam por cima do olhos, esses olhares de espanto... e eu aprendi a viver com eles da melhor maneira que sei e que consigo.

Eu sou vaidosa, eu sou muito vaidosa. Eu amo sapatos, perco-me com carteiras, adoro compras, vibro com vernizes, anéis e outras coisas que tal. Eu sou jovem, sou mulher e mais que nunca sou vaidosa. E eu tenho um Prada.

É aqui que se dá o choque. Quando me levantei da cama naquela noite de sexta-feira ninguém me disse que eu me poderia assustar com a imagem que o espelho iria reflectir.
Ninguém me avisou e eu assustei-me. Não há dia que não me assuste, é feio, é pouco discreto, é assim a modos que incompatível com 98% da minha roupa e ainda para mais aperta as minhas bochechas, que por si só são enormes. Mas é meu!

E eu não concordo com a Oprah e os seus convidados. Acho que têm que continuar a ser vaidosos, incrivelmente vaidosos. Vaidosos de tudo aquilo que têm e que faz sentido.

Eu continuo vaidosa, arranjo as mãos, pés, faço a depilação, ponho cremes, ando com anéis, relógio e pulseiras, tenho brincos nas orelhas, uso vestidos, ténis com atacadores de cetim, volta e meia, se a ocasião merecer, até ponho rímel e anti-olheiras. Eu faço o que fazia e só não faço mais ainda porque não posso... não me poupo a piroseiras e cada dia estou pior.

É a vaidosice que me vai salvando o dia e me distrai deste mono Prada que vive comigo. (Hoje discutimos, ele insistiu em permanecer nos meus sonhos e eu acho que ele não tem que aparecer. Bem se lixou, estamos de relações cortadas.)

É fim-de-semana grande e recebi amiguinhas, vesti um vestido lindinho e pus batômzinho cor-de-pêssego e foi bem bom! Porque afinal de contas, se eu não for vaidosa, quem vai ser?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Primeiro de tudo quero já avisar os visitantes pacientes do blog que muito provavelmente só eu é que cumprirei a minha parte neste contrato - como já repararam só eu é que relato o meu novoi mundo. Nada a apontar. Se tiverem paciência para ler, ainda melhor... eu continuarei a escrever, nem que seja para mexer os dedos e arrumar gavetas na cabecinha.

Depois do aviso esclarecedor:

EU ODEIO FINS-DE-SEMANA GRANDES QUANDO ELES NÃO SABEM A FINS-DE-SEMANA GRANDES.

Ocorre-me um sem número de coisas que eu gostaria de estar a fazer agora, e não comentem coisas como "depois vais ter todo o tempo do mundo", ou "calma, hão-de vir outros fins-de-semana"

Deixem-se de frases feitas e deixem-me ser egoísta só hoje e pensar que agora, (e não num futuro próximo), quereria estar ali, naquele sitio. E sem tão bem com quem!

Às vezes é bom escrever com esta arrogância toda. Passa a neura momentânea.