segunda-feira, 31 de agosto de 2009

MARYCOP, muito prazer

29 de Julho de 2009
Estrada de Colares
15.23hrs

Um mundo que não estava nos meus planos conhecer...
Despiste de carro, ribanceira a baixo, bombeiros, planos duros, cordas para içar, dores agonizantes, urgências hospitalares, médicos, radiografias - "ai coitadinha, tão nova e já partida desta maneira, nunca mais volta a ser a mesma!" ... -"Maria, sou o Dr. Qualquer Coisa e tenho que lhe dizer que tem uma fractura muito grave na C2, quero que tenha consciência que pode nunca mais voltar a mexer-se do pescoço para baixo.... bla bla bla..."

Confesso que a determinada altura deixei de o ouvir, pouco me interessava o que aquele Sr Dr me queria dizer, percebi que estava em meu poder não me mexer mesmo, que voltar a andar dependia de mim e só de mim. A minha Mãe apertou-me a mão, cheirava a Mãe, foi fumar cigarros e avisar as pessoas do meu estado e eu fiquei ali, numa maca, um rodopio de enfermeiros: rasga a roupa, imobiliza mais a cabeça e o pescoço, põe cateter na mão direita, chuta drogas para a veia, e a pouco e pouco a consciência de que estou de facto a descobrir um novo mundo.

NEUROTRAUMA

Sigo para a TAC, descobrem mais uma fractura na C1, todos à minha volta têm uma consciência que não é a minha, ao mínimo toque, à mais pequena coisa eu posso morrer. Ainda me lembro de contar uns disparates a meia voz, de pôr o pessoal de serviço a sorrir - o que é que me está a acontecer pah?!

Seguiram-se momentos de vazio puro e duro, deitei poucas lágrimas, seis? Sete? Muito poucas, havia em mim um sentimento que nunca tinha experimentado, quase transe, uma cabeça que funcionava a mil à hora e um corpo na iminência de deixar de obedecer.

Passou um mês, estou em casa! Graças a Deus que me deu a Sua mão; Graças à Senhora Minha Mãe que me disse "Maricota, vai correr tudo bem porque eu estou a dizer, e as Mães têm sempre razão"; Graças ao Senhor Meu Avô que esteve comigo e me segurou o pescoço às escondidas dos médicos e dos enfermeiros, Graças à medalha da Nossa Senhora Desatadora dos Nós que me acompanha até hoje no braço direito, foi a Avó Carmo que ma deu; Graças ao pessoal do Serviço de Trauma de S. Francisco Xavier e do de NeuroTrauma do Egas Moniz; Graças à minha tão louca e especial família que torceu num silêncio amargurado por um milagre que aconteceu; Graças aos meus amigos que choraram e sentiram o que eu não senti; Graças a uma estrela pendurada no suporte do soro que dizia "melhora depressa irmã" numa letra tosca tão característica do Kiko.

Este meu novo mundo, quero partilhá-lo.
A recuperação é longa, demorada, num passo de caracol que exaspera e faz os dias umas vitórias sofridas, mas tão, tão felizes!

Estou viva, ando e sou feliz neste jogo de SOMI e paciência.

Um enorme beijinho,
o Robot mais feliz e grato,
MARYCOP

5 comentários:

  1. É com bastante orgulho que sou a primeira pessoa a comentar neste blog! Maria foi um grande aperto no coração que deste a toda a gente porque tenho a certeza que ninguém que te conheça conseguiria imaginarte sem andar ou coisa parecida! toda a gente sabe que és agarrada de mais à vida para algum dia ficares assim e acho que só isso ajudou-te muito a ficares boa! Tenho imensa pena de não poder estar por esses lados para de vez em quando ir-te dar um beijinho e ver esse sorriso que nunca sai dessa cara e que põe qualquer pessoa feliz mas sabes que deste lado desejo mais que tudo que recuperes da melhor e mais rápida maneira possível!! Ja tou a ser muito foleiro e pode estragar a minha reputação por isso despeço-me! Muitos beijinhos para uma das minhas "outras" irmãs mais velhas!!

    ResponderEliminar
  2. Acho que não te conheço, mas isso também pouco interessa. Vim até aqui a convite da Margarida e fiquei absolutamente surpreendido pelo post dela; fiquei ainda mais pelo teu.

    Obrigado por te abrires connosco, obrigado por te expores, obrigado por falares dos desafios que te esperam. Vou continuar a ler-vos e a rezar por vocês.

    Beijo grande,

    ResponderEliminar
  3. Olá Mariazinha!

    Ainda bem que não contas-te que eu e a Margarida fomos visitar-te contra tudo e contra todos, passamos barreiras, quebramos regras....e outras coisas mais! ehehe

    Força na cena!

    Beijinho

    Joca

    ResponderEliminar
  4. Não tens o direito de me fazer chorar. Só sorrir!
    Só eu sei o que senti quando recebi a mensagem da Constança, sempre a Constança - a melhor! E só eu sei como foi bom ouvir-te hoje. Há coisas que não mudam, a tua alegria é sempre a mesma e contagia. E só eu sei o que ler isto me custou. Mas é bom conseguir perceber que em cada palavra há uma esperança, uma gargalhada, um pedaço enorme de Maricotitas.
    Estou à tua espera! Adoro-te little mary *

    ResponderEliminar