terça-feira, 29 de dezembro de 2009

2009/2010

Chove lá fora, o frio quase não se sente e o tempo passa com a calma tranquila de sempre.
Voltei a ter pesadelos.
Três carros, um despiste, uma morte, dores, hospitais, macas, médicos, salas de espera. Tudo outra vez tão real e tão doloroso como da primeira vez.

Acordei pequenina, com medo. A chuva batia na janela com uma raiva inexplicável.
Anseio o dia em que isto vai deixar de acontecer. Largar os pesadelos com carros, a ansiedade cada vez que entro num carro, a angustia das curvas e das ribanceiras.

Este ano aprendi tantas coisas em tão pouco tempo que me sinto obesa de conhecimentos.
Aprendi da forma mais abrupta a fugacidade da vida. Aprendi da forma mais dolorosa a maldade humana. Aprendi que as pessoas têm em si a força que têm que ter e não a que acham que têm. Aprendi que a paciência se constrói passo a passo e conforme as necessidades. Aprendi que o momento, por mais pequeno e finito que seja, vale o que vale.

Não fiz a maior parte das coisas a que me propus este ano. Não acabei o curso, não comecei a estagiar, não aprendi a tocar bateria, não fui todos os dias ao ginásio, não aprendi a jogar xadrez, não me inscrevi como dadora de medula óssea, e oiço alguém que diz "mas agora tens a vida toda para fazer o que quiseres"...

Sim, tenho.
Tenho uma vida inteira pela frente até ao próximo susto.
Tenho uma vida inteira pela frente até à próxima desilusão.
Tenho uma vida inteira pela frente até ao próximo pesadelo.

E tenho esta angústia que volta e meia bate à porta e entra sem ninguém a ter deixado entrar. E sinto-me novamente pequenina nesta minha condição de sinistrada.

Não gosto.

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