pedem-me para reagir e não percebem. se calhar não pararam para ver que eu não posso reagir a uma coisa que já não me pertence.
não sou mais eu. deixei de ser no dia em que o carro resvalou. é uma merda, mas é a verdade. pelo menos a minha verdade e aquilo que eu sinto. e a nossa verdade é sempre mais válida que a dos outros.
as últimas semanas têm sido uma luta enorme contra noites de insónias, contra lágrimas gordas, contra sentimentos de revolta. nunca me tinha sentido tão revoltada com tudo isto até há bem pouco tempo.
já não sou eu, e o que sou é novo. tão novo que quase me consigo observar de fora e analisar o que disse e o que fiz.
pudesse eu voltar atrás e não me teria enfiado naquele carro naquela manhã.
não me identifico com o curso, não tenho nada nele que me faça acordar de manhã e sentir feliz com a perspectiva de voltar à faculdade. nada. também não sei o que é me faria feliz agora. comunicação cultutal? gestão cultural? gestão das organizações? comunicação política?
teatro? cinema? televisão?
nunca vou conseguir que perceba que o teatro deixou de fazer sentido porque era demasiado de mim que me pediam. porque era tudo aquilo que eu não queria representar no futuro.
hoje outra vez o mesmo. porque para mim o curso deixou de fazer sentido, porque a maria que foi para salamanca não voltou mais, porque o que viu a inebriou, porque quando voltou achava que tinha a vida aos pés e trocaram-lhe as voltas.
uma merda. uma merda não saber gerir estas emoções todas e saber que quando tocam no assunto eu desabo. porque eu também acho que posso desabar, não posso?
ao menos hoje posso desabar e enrolar-me em conchinha, e isso é bom! e posso limpar as lágrimas sozinha e posso levantar-me para me assoar.
mais uma vez, sinto-me num carro, a 200km/h numa estrada sem saída e com uma parede de betão à frente. vai doer. vai voltar a doer.