segunda-feira, 12 de julho de 2010

HABEMUS FRACTURAS COLADAS

HABEMUS FRACTURAS COLADAS
HABEMUS FRACTURAS COLADAS
HABEMUS FRACTURAS COLADAS

Eram 9.47h da manhã e no serviço de Neurotrauma existia o corre corre normal dos banhos e das visitas médicas.
Avistei o Dr. Gonçalo ao fundo do corredor, senti uma calma há muito tempo desaparecida. Sabia que as expectativas se tinham perdido há muito tempo.

Entreguei-lhe a Tac e o relatório, abriu, viu e reviu, leu o relatório e disse:

"Estão coladas, ligeiramente tortas mas coladas!"

Não realizei, nem me apercebi bem das palavras.

Sou uma abençoada de Deus, uma abençoada pela vida e por todos os que me rodeiam. Choro copiosamente de alegria, cada lágrima é agora um alivio de felicidade. É cada pessoa que me apoiou, cada terço rezado, cada abraço sentido, cada mensagem de força.

Quantos Obrigadas poderei eu escrever para que percebam que, de facto, sem vocês a recuperação não tinha sido a mesma coisa?

Não é porque passou quase um ano, não é porque hoje eu voltei a nascer de novo, não é porque o pior fisicamente já passou, não é porque as coisas correm bem e eu mexo as perninhas e os bracinhos anafadinhos, não é porque as batalhas têm sido ganhas, mas é porque a guerra ainda está longe do fim e as tropas merecem um sincero e eterno OBRIGADA.

Há quase um ano eu levantei-me da cama a muito custo, trazia sobre os ombros o cansaço de 7 semanas a trabalhar em campos de férias fechados, tinha a missão de organizar o dia seguinte: actividades de exterior para 100 criancinhas azuis e verdes. Saí para o terreno com a vontade de a cumprir mais rápido que a luz.

Só tinha a vontade.
Como hoje tenho a vontade de vos escrever.
A vontade.

A meio da tarde tinha mais que a vontade e menos que a missão cumprida. Tinha a cervical partida, a vida suspensa, o corpo na eminência de deixar de obedecer.

Eu lembro-me. Lembro-me de tudo. Mais do que me queria lembrar, e espero que um dia a recordação não passe mais do que uma gaveta empoeirada no sótão das recordações dos vinte. Até lá eu relembro todos os dias a Sorte e o Amor que não me largaram nunca.

Agradeço.
Agradeço do fundo do coração as palavras de conforto, as mensagens e os emails de apoio e de força, as velas acendidas, os terços rezados, as noites mal dormidas, os mimos, os sumos, as gelatinas, os doces, as leituras à cabeceira, as visitas às escondidas, as visitas autorizadas, a estrelinha da sorte, a medalha de Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Agradeço as horas de espera nas Urgências de São Francisco e as outras à porta do Egas Moniz.

Costumo dizer que em muitas alturas há-de ter sido mais complicado para muitos de vós do que para mim. Naquelas horas de incerteza, a minha força, a minha energia, canalizavam-se para um corpo que não podia deixar de obedecer. Nos poucos momentos em que me deixei levar pela emoção tinha a imagem de umas mãos que nunca mais me iriam responder, umas mãos inanimadas e sem vida. Sabia que não podiam ser as minhas, tinha a certeza que não podia ficar por ali o livro que nunca publiquei, a árvore que nunca plantei, os abraços que não cheguei a dar, e tantas outras coisas. Eu tinha a certeza, mas também tinha a vontade, e nem sempre a certeza e a vontade chegam.

Hoje, aqui, dispo-me em frente ao teclado, de coração nas mãos e deixo que elas escrevam livremente o que o coração lhes dita.
Deixo que façam o seu trabalho, para que a cada linha e a cada palavra de gratidão TODOS saibam que esta vitória é vossa. Toda vossa.

2 comentários:

  1. José Sarmento Matos12 de julho de 2010 às 15:17

    Minha querida Maria,
    Estou realmente arrepiado por ler estas palavras maravilhosas. Fico tão contente por perceber o que sentiste neste momento de felicidade e de alegria enorme! Foi uma vitória e uma conquista que só tu poderias alcançar e vencer.
    Quero ler e ouvir muito mais palavras que tenhas para escrever, que tenhas para me dizer... apenas quero sentir esta alegria e emoção que senti ao ler o que escreveste... quero aprender e viver cada palavra tua!
    Grande beijinho e muita força miúda!

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  2. Sem palavras, só sentimento de felicidade. Um grande beijo para ti. GOSTO MUITO DE TI!!

    Pedro Venâncio

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