domingo, 23 de janeiro de 2011

SUBWAY

Entro no teatro a mil, para não variar nada de lugar para o carro à porta e toca a apressar o passo para embarcar nesta viagem.
São 21.30hrs em ponto, sou presenteada com o sorriso do H. na bilheteira, picam-me o bilhete uns metros à frente e lá vou eu. Uma viagem de metro, uma carruagem subterrada, 6 pessoas diferentes e iguais, um Deus estranho, uma visão diferente.

Durante o tempo, que não sei precisar, da peça o meu estômago foi ficando pequenino, torcido, embolado. Frase aqui, frase acolá e aquela sensação que tudo ali é pormenorizado, nada deixado ao acaso, nada por acaso. Congratulo-me por ter embarcado naquela viagem, por chegar ao fim e só hoje ter tido alguma noção do que o texto acrescentou à minha pessoa.

A escrita do Hugo Barreiros é assim, tem esta particularidade de ter que ser digerida com calma. É pesada, é acutilante, é bruta. Rasga o silêncio.
A encenação do Marco Medeiros é detalhada, minuciosa, emblemática.
Na interpretação,sem ferir susceptibilidades, o meu aplauso de pé vai para o Romeu Vala, mais uma vez ele deixa-me a pensar que há talento e talento. Tensão no corpo, voz particular, interpretação inteligente.

Saio da sala a bufar, tenho o jantar aos pulos no estômago, apetece-me enterrar a cabeça num balde de gin e pensar no porquê de tantas coisas.
Há ali uma altura que eu me identifico com as personagens todas quando confrontadas com a morte eminente, a incerteza do daqui a um bocado, a solidão - eu sei o que aquilo é. Eu sei o que é o desespero comedido de não saber o que está no minuto a seguir, eu sei o que é sentir o cheiro da morte, o cheiro da incerteza, a crença num Deus que nem se sabe bem se existe e se vai acudir, a angústia da solidão. Eu sei. E talvez por isso nada mais me ocorreu quando acabou o espectáculo que sair dali para fora rápido. Um abraço ao Hugo e zarpa Maria.

Passaram três dias e há três ideias que não me saem da cabeça:
"um sueco nascido na Palestina há 2000 anos atrás"
"61 litros e meio - é o que chora em média uma pessoa na vida"
"encontrar um homem é como jogar batalha naval e querer acertar o porta-aviões: água, água, água"


Subway está no Auditório Fernando Lopes Graça, Parque Palmela, Cascais. Até dia 30 às 21hrs30. Informações e reservas em reservas@palco13.com.

2 comentários:

  1. No próximo Sábado, serei eu a "voluntarizar-me" para levar esse "murro no esttômago".
    Do Hugo não espero menos. Do Hugo, esperando TUDO, não espero nada. Sei que vou "relê-lo" em cada palavra que ouvir.
    Irei atentar nos pormenores que o Marco não descurou.
    Irei olhar e ouvir o Romeu na subtileza do seu Talento Único (e nessa Sensibilidade que lhe deve vir de uma Alma à flor da pele).
    Depois, minha Maria-sempre-no-meu-coração, volarei para confrontarmos notas.
    Afinal, ambas sabemos como tudo começou, não é???

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  2. Sabemos sim, sabemos tão bem que é quase estranho o que sinto.
    Boa viagem de subway!

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