quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares, Não Te Deixarei Morrer, David Crocket.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

pois não?

quando me criaram este blog a finalidade prendia-se com as novidades do meu novo mundo. talvez hoje o blog comece a deixar de fazer sentido, não conte mais as novidades de um mundo novo. este mundo, este meu novo-velho mundo, é cada vez mais o meu mundo normal.

os mundos normais não têm importância nenhuma, pois não?
as pessoas não têm blogs a descrever a manhã no trânsito, o almoço com os colegas, a tarde numa esplanada, o fim de um dia atarefado. têm?

as pessoas não fazem blogs para dizerem aquilo que não conseguem dizer, ou fazem? as pessoas não fazem blogs porque alguém vai ler, e se calhar perceber, o que está por lá escrito.

não sei se o blog continua a fazer sentido. eu sei que escrever nele me dá uma ligeira sensação de alívio e desabafo. mesmo quando a mensagem podia ser transmitida cara a cara, mesmo quando não é bem por causa do blog que a cabecinha se vai arrumando. ou talvez seja. não sei. já não sei mesmo nada.

também não me apetece especular muito sobre o sentido de tudo isto. li, outro dia, que quem pensa demasiado morre mais depressa. toda a gente sabe que eu penso, demasiado. (se calhar é por isso que me dizes sempre que eu não posso negar uma coisa que, à partida, quero.)

volto a lembrar-me da ideia de o blog ser uma montra do que somos. eu gostava de ser invisível. pelo menos nalgumas ocasiões eu gostava de ser invisível, não ter que me preocupar se as mãos estão arranjadas, se o cabelo está com personalidade própria, se a roupa é a adequada. às vezes eu gostava de ser invisível.

(na sexta eu gostava de ter sido invisível, porque a boca diz o que a cabeça manda e os olhos fazem o que o coração sente.)

o blog descreve minuciosamente essa relação disparatada dos dois. a minha cabeça e o meu coração nunca andam de braços dados, nem devem saber as razões porque nunca se entendem mas odeiam-se profundamente.

a cabeça, volta e meia, controla a escrita e tenta que ela não seja a voz do coração, o coração dá-lhe a volta e despeja tudo para o blog.

e eu penso, eu Maria, este blog já não faz sentido, pois não?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

está a trovejar e eu tenho medo.
odeio o inverno.
odeio a chuva.
odeio o frio de lisboa.

sábado, 18 de setembro de 2010

Nas minhas mãos

Entro no carro, ocorre-me aquilo que me ocorre sempre que entro num carro de um homem à porta de casa - os meus vizinhos devem-me achar uma depravada imoral. Já não sei como nem porquê cresceu esta amizade. Lembro-me de como o conheci, onde fomos naquela noite e lembro-me de juntarmos logo uma serie de factores familiares ao bolo. Depois foi com o tempo.

É talvez das pessoas que mais me encosta à parede. Tem essa capacidade e não sabe. Abençoados óculos de sol que não deixaram ver as lágrimas que se iam soltar.

- Mas porquê, Maria? Podes falar.
- Porque há coisas que dóiem mais hoje do que doíam ontem e seguir em frente não é mais fácil que ficar para trás.

Mais uma vez a voz treme, acho que vou explodir entre o morango e a meloa do Santini. Tenho lá em baixo o mar e acho que vou explodir. Respiro fundo, mais um bocado de gelado, olho para o horizonte e não há stress. Não tem que haver stress. É fácil. Respiro fundo e já passou.

A última vez que chorei a alma estava em Salamanca, vagueei pela vida durante uma semana, chorava 24hrs sob 24hrs e nem a Constança sabia mais o que fazer. Um dia acordei e deixei de chorar, passou. Lembro-me que chorar às vezes é bom. O F. disse-me que um dia ia acontecer, acordar e não me lembrar mais de chorar. "Eventualmente um dia lembraste que já não te lembras mais."

Aprendi com o acidente, que o dia de amanhã não é pior nem melhor que o de hoje. É diferente. Tem resultados diferentes. Não passa um único dia que eu não me lembre das minhas incapacidades, mas com elas também me lembro das minhas vitórias e sigo invariavelmente em frente sem tempo para que a tristeza tome conta de mim.

Gosto de voltar a ser invisível aos olhos de quem me olha, já não há ferros, nem parafusos, nem colares, nem cicatrizes na cara e no peito, nem mobilidade rígida, nem passinhos de bebe.

Olho outra vez para ele:

- "Está nas tuas mãos."

Acaba-se o gelado, fuma-se um cigarro, olha-se para o horizonte e vira-se as costas.
As mãos vão ter que trabalhar de acordo com a cabeça e o coração.
"Não venhas mais atrás de mim, a menos que estejas pronto para me apanhares." - Callie to O'Malley, Season 3, Ep. 6.

Tão simples quanto isto. Não venhas mais atrás se não estás pronto para me apanhares.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

bla bla bla...

- "Há sempre um assistente!"

Pois, claro! Só mesmo a minha sócia!
Ah! E depois de fazer isto tudo, ainda tenho que chegar ao fim do dia e lembrar-me que há uma coisa na minha vida que se chama dor.

Regresso às aulas 2010/2011

A 16 de Setembro de 2010 posso anunciar ao mundo virtual que deixei de engrossar as estatísticas da baixa médica e volto a fazer parte do fantástico mundo universitário.

Não, não estou nervosa, nem ansiosa, nem comprei cadernos, nem sebentas, nem canetinhas às cores, nem agenda, nem porra nenhuma. Também não imprimi 300 horários de diferentes tamanhos, não fui tirar o número das salas, não vi quem figura na lista de alunos, quem são os professores, nem os métodos de avaliação.

Não mudou nada de ontem para hoje. Depois de uns, muitos, euros, lá a impressora cuspiu um papel com o meu horários novo, com as contagens de créditos e equivalências, e eu saí da secretaria, rodei nos calcanhares, atravessei os corredores de sempre, fui ao bar de sempre e não soube a sempre.

Nem a Maria, nem a Catarina, nem a Joana, nem o Zé, nem a Constança, nem ninguém!! Ninguém de sempre para as conversas de sempre, os cafés de sempre... nada de Nuno a refilar, nada de nada daquilo que era meu.

E aos poucos e poucos é esta a minha nova realidade. Andar com 1000 olhos atentos aos encontrões das crianças de 18 anos que às 11hrs da manhã já se acotovelam para comprarem minis no bar, evitar estar de pé a fazer conversa, evitar carregar peso, evitar que a velha do metro me dê um encontrão, evitar ir de pé no comboio, evitar isolar-me, evitar olhar de lado para os minis calções escandalosos das miudas que por lá passeiam o cabelo mega-loiro-despenteado-propositadamente-fashion-e-wild, explicar pela enésima vez o despiste, o diagnóstico e o prognóstico, e sentir novamente que enfio uma cassete e conto só o que quero contar e que nunca realmente digo aquilo que sinto.

Volto aos cheiros da cidade, ao calor da cidade, ao frenesim da cidade. Mas sou ainda mais pequenina que era quando lá entrei...


"Dá-me um abraço... ", só hoje, dá-me um abraço e diz-me que vai correr tudo bem.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Prometo

As coisas encaminham-se para a normalidade de outrora.
As aulas começam segunda, retomarei o ginásio e a fisioterapia, preparo-me para passar o fim-de-semana com os amigos no monte, aproxima-se o fim do Verão e é inevitável que as melhorias sejam cada vez mais visíveis.

O sabor da normalidade tem vindo em doses pequenas, a refeições intercaladas e de repente já não é estranho, nem diferente, é só normal.

Tão normal que me acostumo a ela novamente, sem grandes medos nem grandes ansiedades, numa calma que aprendi a encontrar. O amanhã voltou a existir, o depois de amanhã começa a espreitar e tenta ir ganhando terreno, mais dia menos dia abre a porta e calça as pantufas. Quando der por ela o amanhã, o depois de amanhã e o mês que vem são amigos outra vez, ganham de novo a inconsciência da vida e seguem o seu caminho lado a lado.

O pacote de açúcar dizia: "Um dia atiro-me de cabeça" - ainda não é hoje o dia, mas eu voltei a acreditar que um dia vai ser o dia. E assim que o pescoço permitir atirar-me-ei de cabeça.

Prometo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

23! PARABÉNS A MIM

23, 23, 23, 23, 23!!! PARABÉNS A MIM!!!

Ora vejamos:

Bolo com velas logo de manhã, ainda com os olhos meio fechados
Pequeno-almoço com a Avó Carmo
Almoço com o Pai João e a Sis Sara
Mergulho na praia com a Sis Sara e o Betucho Dinis
Jantar com os de sempre
Copo com as Tigrinhas, a Aninhas, o Tiago e o Diogo

Património aumentado:

UM MEGA SANTO ANTÓNIO COR-DE-ROSA CHOQUE (é desta, é desta!!!)
UM MEGA RELÓGIO PIROSO E BRILHANTE
UMA MEGA ESTOJINHO COM COISINHAS ESSENCIAS À VIDA DE UMA MENINA
UM MEGA LIVRO DO KAFKA
UM MEGA ENVELOPE
UMA MEGA CARTEIRINHA PIROSINHA
UMA MEGA PULSEIRA
UM MEGA COLAR
UMA MEGA TARDE NAS COMPRAS

Mensagens no fb: mais de 100
Telefonemas: perdi a conta
Mensagens: perdi a conta

ALEGRIA: a 1100%

Os dias continuam a surpreender-me, eu continuo a ser uma eterna criança, e nem os dois cabelos brancos nem as eminentes rugas me desarrumam a alegria de fazer anos e contar, com muitas velas, as vitórias de estar viva e ser feliz!

Um beijo a todos,
Maria Com Muito Mais Pescoço e Muito Mais Feliz

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

OH SINHO, FILHO! VAMOS PÔR OS PUTOS A SALTAR DA PRANCHA!

falo com um amigo que viveu uma tragédia. no verdadeira sentido da palavra - uma tragédia.
desligo o telefone com a sensação que lhe deixei um sorriso na cara, ainda que ténue, que passageiro, eu senti que do outro lado ele esboçava o seu sempre sorriso especial.

conheci o tiago nos campos de férias, apareceu-me à frente com um ar de nhonho e eu pensei "oh caraças... não há aqui ninguém que se safe?"

em menos de nada eu sentia uma cumplicidade que atravessava as leis das probabilidades e sentia que ele era uma mais-valia na minha vida. não me enganei. ensinou-me a relativizar, a improvisar, a re-criar, a brincar, a rir desmesuradamente.

ensinou-me a passar pelos miúdos sem deixar cravada a marca da regra, ensinou-me que a integridade é a única maneira de ser mais e melhor, ensinou-me que o touro, por muito grandes que sejam os cornos, nunca é maior que a nossa força.

ele, se calhar, não sabe a admiração que tenho pelo seu trabalho, pela sua pessoa. se calhar nunca lhe disse que ele era uma pessoa que faz com que o mundo seja um sitio melhor. eu nunca lhe disse porque nem sempre dizemos tudo o que deveríamos dizer.

o tiago aprendeu, da pior e mais cruel maneira, que a vida se esgota num segundo. hoje quando lhe liguei para lhe deixar um beijo e um abraço forte ele respondeu:

"faz toda a diferença, agora a vida ganhou novas cores e novos contornos"

e nem sempre as cores são mais vivas, os novos contornos não são, necessariamente, mais alargados e menos restrictos. são só novos.

o tiago, o meu sinho, sofreu uma perda incalculável, de uma maneira impensável, e hoje, aqui, eu quero que ele saiba tudo aquilo que significa para mim. sem barreiras e com o tempo todo do mundo.

quero que ele saiba que um dia acorda e a dor é mais pequena, porque a única verdade nestas alturas, é que o tempo ajuda a que as novas cores e os novos contornos se tornem familiares até vir alguma coisa que volta a trocar a palete e os limites. e crescemos. e somos mais e melhores.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Posso só dizer: CHOVE E O CHÃO FICA ESCORREGADIO E EU IA-ME ESPETANDO VEZES VÁRIAS DURANTE O DIA DE HOJE.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

quero

um dia acordas de manhã e não sabes quem és, quem foste ou quem poderás vir a ser.

um dias acordas e aprendes que não podes voltar as erros de sempre, aos caminhos de sempre e aos vícios de sempre.

um dia acordas de manhã e a vida tem uma vida para te ensinar. dói tanto que te parece um plano paralelo à realidade. é tão cruel que não pensas no assunto para não te revoltares.

e um dia voltas a acordar e o pesadelo ainda não passou. porque não passa só com o tempo. porque não passa só porque queres. porque aquilo que pode parecer fácil à luz do que já foi difícil não é, de todo, simples e descomplicado.

- Já estás boa?
- Para lá caminho.

quero tanto responder que sim, que estou boa, que acordo sem dores, que passo os dias sem me lembrar que a vida me passou a ferro, que naquela tarde tudo mudou. quero andar para a frente sem medo de cair, sem medo de escorregar, sem medo de esfolar o nariz, os joelhos, as mãos.

quero correr.
quero nadar.
quero pular.
quero fazer cambalhotas.
quero fazer o pino.
quero conhecer o deserto num jipe.
quero mergulhar de cabeça.
quero dormir sem pesadelos.
quero acordar sem dores.
quero esquecer o que são dormências.
quero viajar de mochila às costas.
quero não voltar a entrar na sala das TAC's.
quero poder contar ao meu marido o que mais me doeu.
quero esquecer o que mais me dói.
quero apertar vestidos ao pescoço.
quero usar colares pesados.
quero que o cabelo cresça.
quero que as cicatrizes desapareçam.
quero voltar a acreditar que amanhã é amanhã e há tempo.

é isso. eu quero.

as férias, ao fim de tanto tempo foram um balanço. foi um reencontro com aquilo que é a vida na sua essência.

devorei um livro que me respondeu a perguntas caladas. e um dia talvez eu consiga perceber porquê.

hoje eu fiz a mim própria a única pergunta que não podia ter feito. e dói.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

_ Quero ir para o Rio!

_ Quando?

_ Ontem.
voltei. a cabeça pediu-me para voltar e eu voltei.
as escolhas são difíceis e a rotunda tem mais saídas que entradas.

vou ligar o gps do coração.