falo com um amigo que viveu uma tragédia. no verdadeira sentido da palavra - uma tragédia.
desligo o telefone com a sensação que lhe deixei um sorriso na cara, ainda que ténue, que passageiro, eu senti que do outro lado ele esboçava o seu sempre sorriso especial.
conheci o tiago nos campos de férias, apareceu-me à frente com um ar de nhonho e eu pensei "oh caraças... não há aqui ninguém que se safe?"
em menos de nada eu sentia uma cumplicidade que atravessava as leis das probabilidades e sentia que ele era uma mais-valia na minha vida. não me enganei. ensinou-me a relativizar, a improvisar, a re-criar, a brincar, a rir desmesuradamente.
ensinou-me a passar pelos miúdos sem deixar cravada a marca da regra, ensinou-me que a integridade é a única maneira de ser mais e melhor, ensinou-me que o touro, por muito grandes que sejam os cornos, nunca é maior que a nossa força.
ele, se calhar, não sabe a admiração que tenho pelo seu trabalho, pela sua pessoa. se calhar nunca lhe disse que ele era uma pessoa que faz com que o mundo seja um sitio melhor. eu nunca lhe disse porque nem sempre dizemos tudo o que deveríamos dizer.
o tiago aprendeu, da pior e mais cruel maneira, que a vida se esgota num segundo. hoje quando lhe liguei para lhe deixar um beijo e um abraço forte ele respondeu:
"faz toda a diferença, agora a vida ganhou novas cores e novos contornos"
e nem sempre as cores são mais vivas, os novos contornos não são, necessariamente, mais alargados e menos restrictos. são só novos.
o tiago, o meu sinho, sofreu uma perda incalculável, de uma maneira impensável, e hoje, aqui, eu quero que ele saiba tudo aquilo que significa para mim. sem barreiras e com o tempo todo do mundo.
quero que ele saiba que um dia acorda e a dor é mais pequena, porque a única verdade nestas alturas, é que o tempo ajuda a que as novas cores e os novos contornos se tornem familiares até vir alguma coisa que volta a trocar a palete e os limites. e crescemos. e somos mais e melhores.
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