terça-feira, 28 de junho de 2011

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Não sou indiferente à morte do Angélico, nem à do Angélico nem à de ninguém, mas sou feroz no que toca à responsabilidade na estrada.
Feroz.
Já o era antes e agora sou mais.

Eu parti o pescoço, fractura c1/c2, com sub-luxação de c3. Eu parti o pescoço e escrevo-vos pelas minhas mãos, ando pelos meus pés, mexo-me como quero. Não foi só o milagre que atribuem, foi o cinto de segurança, foram os 50 km/h numa estrada nacional e foram as análises toxicológicas limpas.

Não sei, não sabe ninguém, se estaria viva caso não levasse cinto. Apesar do milagre, que agradeço todos os dias, a verdade é que um despiste daquela dimensão e a queda na ravina sem cinto não augurava nada de bom para a minha pequena pessoa. Também não sei, e não sabe ninguém, se a velocidade fosse outra se o desfecho tinha sido o mesmo. Não tinha mais que um café a pessoa que ia guiar o carro, caso estivesse com um copo a mais... estaríamos cá?

Sou feroz. Muito feroz. As regras ditam velocidades obrigatórias, ditam cintos de segurança, ditam que não se pode guiar sob o efeito de estupefacientes. Relembro que as regras existem por alguma razão.

Falo-vos de números:em 2009 mais de meio milhão de pessoas morreu na estrada por causa do uso indevido de telemóveis. Mais de meio milhão. Milhares delas nas passadeiras foram atropeladas por pequenas bestas que iam ao telemóvel. A atenção de uma pessoa desce 91% fica, por isso, reduzida a 9%. Alguém consegue jurar que guia um carro em segurança só com 9% de atenção?

Há não muito tempo gritei muito com um primo meu, disse-lhe coisas que espero que lhe tenham ficado lá dentro. Disse-lhe que se era irresponsável que se matasse sozinho e de uma vez, nada de ficar num brócolo, nada de matar fosse quem fosse ou magoar terceiros por irresponsabilidades na estrada. Digo a todas as pessoas que acham que precisam de ouvir umas boas verdades, não digo, berro.

O pobre Angélico, paz à sua alma, não merecia uma morte tão prematura, nem ele nem os que com ele seguiam naquele malfadado carro. Certo é, e dá que pensar, que o único que saiu só com arranhões levava o cinto. O pobre coitado que acabou por morrer logo no local foi cuspido, literalmente, pelo vidro da frente uma serie de metros e veio a ser atropelado por outro carro. Um cinto estrafega mas não cospe pessoas pelo vidro da frente. Até vos posso dizer que o cinto magoa, eu tinha imensas dores, durante mais de uma mês tive a marca do cinto em nódoa negra e sangue pisado no meu corpo, mas foi o cinto que não me deixou sair do sítio nem ser cuspida para fora do carro.

Espero muito, mesmo muito sinceramente, que o triste desfecho desta história nos venha por a todos a repensar os hábitos na estrada. Os cintos, as velocidades, o álcool, as drogas e até os seguros. Que se reforcem as campanhas em altura de férias e festas, que se faça ver aos jovens as consequências irreversíveis das más tomadas de decisão. Que se mostrem filmes de desastres, pessoas desfiguradas, entravadas, mortes violentas, com sangue, sem censura. Que se seja violento e bruto e frio e se mostre, de uma vez por todas, que a estrada não é para brincadeiras.

Figuras públicas deste país, dêem a cara por boas causas e obedeçam, mais que ninguém, às regras de estrada. Sejam verdadeiros exemplos para as pessoas que vos seguem.
Pessoinhas, usem cinto de segurança - sempre. Mesmo quando vão "só ali".

Não devo conseguir mudar o mundo mas se mudar o comportamento de uma só pessoa já me sinto bem. Não uses o telefone no carro, por favor.

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