É uma história como muitas outras, daquelas do "Era uma vez...".
A Senhora Proprietária conhece o Senhor Banco, vivem momentos escaldantes, trocam e-mails, de vez enquando ligam e até combinam um encontro ou outro!
Ele faz-se de difícil, jura-lhe que é o melhor do “mercado” e ela, sobre os despojos de guerra, rendida a uma promessa de vida, ergue a bandeira branca e diz-lhe “SIM”!
Os primeiros tempos são de euforia! Uma vida a dois! As regras do jogo estão lançadas!
Pela Senhora Proprietária é aprovado o SIM incondicional: na fortuna e na falência, pagará sempre com o seu amor, nunca descuidando os seus deveres conjugais, entregando-lhe todo o seu dote, para nunca mais o ver.
Pelo Senhor Banco são mantidas promessas de fidelidade apenas e só enquanto a Senhora Proprietária cumprir com as suas obrigações e, claro está, sem prejuízo da possibilidade de abandono sempre que “as condições de mercado assim o justifiquem”, casos em que a Senhora Proprietária ficará desprovida de todo o seu património e auto-estima.
Ficou tudo por escrito no dia 28 de Julho de 2009, pelas 12h45, com 2h45 de atraso…reza a tradição que as noivas se fazem esperar, mas nesta linda história foi a Senhora Padre! Era uma senhora elegante, trinta e poucos, com ar de quem já assistiu a muitos casamentos mal sucedidos. Com compaixão, ainda lançou para a Senhora Proprietária um último olhar de “tem a certeza que é isto que quer para a sua vida?” e releu as condições estabelecidas. Não houve hesitação! Como um mosquito contra um vidro em plena auto-estrada, assinaram-se os papéis!
Foi uma cerimónia bonita, há que dizê-lo: do lado da Senhora Proprietária, para além da própria, estavam ainda o Senhor e a Senhora Fiadores, a Senhora Angariadora I e o Senhor Personal Finance; do lado do Senhor Banco, para além do próprio, o Senhor Do Balcão, o Senhor Ex-Proprietário (que os tinha apresentado), a Senhora Angariadora II e o Senhor Advogado das Senhoras Angariadoras I e II.
A presidir a cerimónia, a Senhora Padre, assistida pelo Senhor Acólito (novato que aprendia ainda os trâmites da profissão, mas já conseguia fazer de forma convincente o olhar de “tem a certeza que é isto que quer para a sua vida?”).
Ao fundo da capela, estava a Senhora Hipoteca, de presença justificável, mas não justificada, mulher com ar vivido e experiente, que mata com um só golpe. A troca de olhares entre o Senhor Banco e a Senhora Hipoteca não foi indiferente à Senhora Proprietária, mas o amor é e sempre será cego…
A Senhora Proprietária não demorou a sentir que a vida a dois era afinal a três. Não era, nem nunca fora, o grande amor do Senhor Banco, no seu coração a Senhora Hipoteca tinha afinal o lugar cativo, para todas as épocas, em todas as jornadas.
A Senhora Proprietária, que no fundo sempre soube de tal triângulo amoroso, decide ignorá-lo, e num acto de cobardia heróica, alimenta essa relação com dedicação e estoicismo!
Entretanto nasceu o Spread, o filho mais velho e desejado, muito alto para a idade!, um jovem promissor, sempre em ascensão! E a Euribor, - um imprevisto -, que, coitada!, anda sem rumo pelos caminhos da vida, aos altos e baixos, de 3 em 3 meses muda de escola, mas nunca prometeu grandes resultados!
No início, o Senhor Banco, qual adolescente hormonalmente apaixonado, mimou até mais não a Senhora Proprietária: ofereceu-lhe uma caderneta de cheques, um cartão de plástico semi-transparente com letras verdes (a sua cor preferida), muitas pastas de papel e literatura interessante, digna de um Nobel! Aos seus olhos, a Senhora Proprietária era a pessoa mais importante da sua vida!
Mas rapidamente deu a cara…depois de se fazer pagar – porque afinal, é o melhor que a Senhora Proprietária conseguiu arranjar! - , há 2 meses que já só vai a casa para dar o ar da sua graça, sob a forma de pequenas intervenções pontuais e espontâneas.
Chega a casa para jantar, senta-se à mesa e grita: “Então? Já são horas!”.
Todos comem: o Senhor Banco, o Spread, a Euribor, a TANB (a cadela adoptada)...e até a Senhora Hipoteca que, desconfia, subsiste à custa de uma vida paralela mantida com o Senhor Banco!
Até à data, a Senhora Proprietária mantém-se fiel e cumpridora das suas obrigações, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza!
E o Amor resiste, de tempos imemoriais, de paredes em pedra, inabaladas pelos sismos da História!
Bj
terça-feira, 1 de setembro de 2009
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tu és genial, esta ideia é muito boa!
ResponderEliminarque história de amoreee tão parecida a umas que eu cá sei :)
beijinhos
Fantástico! :)
ResponderEliminarSe alguma coisa mudar na tua grandiosa relação - banco, hipoteca, euribor, spreed.... Eu tenho um quarto para te alugar!! Bom, Bonito e Barato!!! ahahah
Beijinho :)