sábado, 30 de outubro de 2010

há coisas que me chateiam profundamente.

Arca de Noé - encomendada

Chove a potes, e pelo sim pelo não eu já encomendei a minha Arca, com Noé e bichinhos e tudo e tudo.

Adivinha-se um fim-de-semana looooooongo, recheado de chá, scones, amigas, sushi, gala, muita chuva, espero que nenhuma trovoada, e mantas.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

mundo: atenção!

mesmo quando troveja a bem trovejar, mesmo quando chove a bem chover, mesmo quando o dia tinha tudo para ser péssimo, quando olho para tudo o que a vida me deu nos últimos 15 meses só posso e só quero estar feliz.

por isso: sou feliz e estou feliz!

as vezes todas que despejei no blog as injustiças que sentia, as vezes todas que vim chorar calada para o espaço cibernautico, as vezes todas que me lamentei não serviram de nada. há sol, há sempre sol. em forma de Mãe, em forma de Irmãos, em forma de Avó, em forma de Tia, em forma de Tio, em forma de Primos, em forma de Amigas, em forma de Amigos, em forma de Ohcib.

olhando para trás descubro que foi neste espaço que tantas vezes dei voz ao que pensava e não queria partilhar. descobri em mim uma força que não julgava existir. descobri em mim uma calma absurda em situações limite. o que fica de melhor é esta sensação que o mundo anda todo ao contrário, que o mundo ainda não percebeu bem o que andamos por aqui a fazer... eu ando cá para ser feliz e descobrir a minha missão. se a minha missão passar por isto mesmo, aqui estou eu:

MUNDO: ANDAMOS CÁ PARA SERMOS FELIZES.

e a felicidade faz tão mais sentido quando é partilhada!

15 MESES

toda a gente sabe o medo que eu tenho de trovoada.
toda a gente sabe o medo que eu tenho de trovoada.
toda a gente sabe o medo que eu tenho de trovoada.

podiam ter deixado a trovoada para outro dia, é que as fracturinhas fazem hoje 15 meses!

PARABÉNS FRACTURINHAS! 15 MESES DE LUTA E AINDA NÃO CEDERAM! CLAP CLAP CLAP

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

como arroz e feijão*

http://www.youtube.com/watch?v=Ui6OXsG2yCU


às vezes acho que nós somos mesmo arroz e feijão. quer dizer, eu sou o feijão e tu o arroz e só nos encontramos no prato.

"o dia do prato chegou, é quando encontro você, nem me lembro que foi diferente, mas assim como veio acabou e quando eu penso em você choro café e você chora leite..."

*Prato do Dia, Teatro Mágico

a saga continua

não posso ser dadora de medula óssea porque tenho uma hérnia, uma sub-luxação e duas fracturas de coluna cervical c1-c2.
só me apetece dizer/escrever asneirolas. eu até tenho lidado muito bem com esta história toda, mas estas descobertas do antes e depois inesperadas deixam-me de rastos.

podiam fazer uma lista daquilo T U D O que eu não posso N U N C A mais fazer depois da queda na ribanceira de Colares. era mais fácil, só um bocadinho mais fácil. e deixavam-me longe destas surpresas:

-já preenchi o formulário, não tenho comigo o cartão de dadora de sangue, é preciso?

-não senhora, não precisa do cartão. ora vamos lá ver... problemas de tiróide, medicação diária, transfusões de sangue há menos de 6 meses... não, nada?

-nada.

-operações?

-às amigdalas.

-problemas de coluna, hérnias operadas ou não?

-hérnias?isso eu tenho! o que é que entende por problemas de coluna?

-tudo!

-ah... arrr... pois... (entretanto a menina que tinha ido comigo olhou-me com os olhos esbugalhados, tinha-lhe contado o acidente 5 minutos antes) sabe, é que há um ano e tal eu parti o pescoço.

-então não pode ser dadora.

-hum... e onde é que isso está escrito? não estou a desconfiar do senhor mas não está nada disso no formulário!

-aqui, (tira de uma gaveta um molho de folhas e entre as 8 patologias colocadas de parte sem pensar esta lá escrito COLUNA VERTEBRAL) está a ver?

-sim...

rodo nos calcanhares, saio do edifício da biblioteca da católica e tenho o sangue a ferver-me nas veias. uns com tanta vontade de ajudar e sem poderem, outros nem lhes passa pela cabeça que podem salvar uma vida. e ainda tenho aquele sentimento de culpa de não me ter disponibilizado para ser dadora logo aos 18 anos, se calhar podia ter ajudado alguém até à data do despiste. bolas, bolas, bolas!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Carta Que Nunca te Escrevi

Perguntas-me como estão os fios do coração e do pescoço. Respondo-te que estão bem, nem que seja bem mal. Dizes que é normal, dás-me meia dúzia de frases bonitas e tentas saber o que se passa.

Nunca percebi porque é que fazes isto. Não sei porque é que teimas em desiludir-me para depois quereres fazer parte da minha vida. Esta não relação que temos é venenosa. Apercebeste-te disso? Sabes que esta carta calada é para ti? Nunca deves ter vindo ao blog, pediste-me várias vezes o endereço mas não creio que tenhas por cá passado alguma vez. Nem no início, mesmo depois do acidente e com as coisas a quente, mesmo quando te esforçaste, pouco, para reatares uma coisa que nunca existiu.

Dizes-me que tens mais experiência de vida, que percebes, que sabes que estes sapatos novos me ficam bem, mais uma vez nem que seja bem mal. Queres ver os sapatos novos, queres que eu te conte onde encontrei os sapatos novos, há quanto tempo ando de olho neles. Respondo-te. Conto-te o que queres saber, durante 10 minutos somos cumplices. 10 minutos numa vida que tem 24hrs por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano.

10 minutos aqui e acolá não chegam quando se tem 23 anos, quando se lutou por se ser vista e tida em conta na lista de prioridades. Não estavas na fila escura do teatro, não estavas à porta de Salamanca, não estavas quando acordava doente, não estavas quando comecei a escrever, não estavas quando fiz 18 anos, não estavas quando fiz 21, não estavas quando era Natal, não estavas aos fins-de-semana no jardim, não estavas nem nunca estiveste por mais de 10 minutos.

Não te consigo guardar raiva, nem mais nada. Não me peças para guardar mais nada. Não quero guardar mais nada. Quando esta carta que nunca te escrevi acabar fica por aqui a última desilusão. Fica por aqui aquilo que nunca te disse.

Não te tenho como uma má pessoa, não te julgo por não saberes escolher o teu caminho e quem queres ser na minha vida, não te pergunto quem sou e vivo com esses 10 minutos que me dás de cumplicidade ensaiada por conveniência. Se um dia escreverem um livro sobre a tua vida sei que sabes que as páginas dedicadas à minha pessoa não passaram de duas, uma que conta o meu nascimento, outra que acaba com o acidente e como isso nada mudou a nossa relação.

Disseste-me que as coisas iam mudar, disseste-me naquela tarde, no jardim, rodeado de lagartos e com os olhos de um louco que as coisas iam mudar. Mais tarde disseste-me que tinhas um pressentimento, que as coisas estavam a mudar. É nessas alturas que sei que me fizeste falta. Porque as coisas só mudam para ti quando estás com olhos de louco. Pudesse eu ser a Ophélia e perceber de que mudança estás a falar. Eu era Ophélia e tu falavas comigo de igual para igual.

Não digas mais nada. Não te voltes a justificar. Não me voltes a enganar. Não me voltes a desiludir. Não me perguntes mais como estão os fios do coração e do pescoço. Não me peças mais calma e compreensão. Não me arranjes mais desculpas. Não me digas que estás à espera do dia em que o sonho da valsa se vai concretizar. Não me chames Cotitas. Não me chames mais.

Nem por 10 minutos. Não venhas atrás de mim se não pretendes acompanhar o meu passo largo. Não almoces mais comigo se a conversa é silenciosa. Não me contes o que comentam. Não me digas mais aquele nome que tem três letras. Não deixes nunca mais que eu crie expectativas. Deixa-me ser outra vez pequenina e estar a passear na bicicleta azul brilhante no jardim de Leiria. Deixa-me ser pequenina outra vez e comer castanhas na Rua Augusta, tirar fotografias debaixo do elevador e acreditar que eras um porto seguro.

Se te ligar e te disser que os fios do coração estão enleados vais achar que estou a falar dos sapatos novos. Não vais perceber que esses sapatos estão na minha vida há dez anos, não vais perceber que esses sapatos ainda que me magoem às vezes, não me desiludiram, não me prometeram a lua, não se foram embora nunca. Se te ligar e te disser que os fios estão enleados não vais perceber que é por tua causa. Por isso eu respondo o que ensaiamos vezes sem conta - e nascem novamente 10 falsos minutos de cumplicidade. E dói. Dói sempre.

Porque eu tenho mais de ti do que quis e porque estarás sempre aí. Perto.
as temperaturas não param de baixar, ou é impressão minha?

760 300 513 - já votaram?

domingo, 24 de outubro de 2010

760 300 513

760 300 513
760 300 513
760 300 513
760 300 513
760 300 513

MARIA STURKEN À FINAL JÁ.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pelo sim, pelo não, é melhor focar-me no Mickael. O Pai é Pai e o Piqueno David é Piqueno!
Eu adoro de paixão a família Carreira, é do Pai ao Piqueno David.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Quando as cores ganham mais cor e os sabores ficam mais intensos"

não percebi ainda bem o que é isso de ter partido o pescoço. quer dizer, eu percebi, só não percebi o que é que acontece agora.

e agora?

eu parti o pescoço, ele colou torto, casei-me com as dores numa cerimónia muito lindinha, casamento é para a vida, claro está, a minha vida ganhou novos sabores, novas cores e depois? o que é que eu faço com estes novos sabores e com estas novas cores?



ando a ler, ou a tentar ler, o livro que o António Feio deixou escrito. a tentar ler porque volta e meia sinto um nó enorme na garganta com as palavras e com os sentimentos. não me quero, nem me posso, comparar ao grande artista, mas reconheço nas suas palavras o que muitas pessoas em situação limite também devem reconhecer.



se a morte esteve a espreitar para mim nas primeiras horas, eu não a vi. eu não a senti. guardo as palavras da senhora minha Avó na entrevista, "ela estava serena, transmitia-nos calma". não me lembro de estar serena, mas calma lembro-me. estava estupidamente calma para quem tinha a vida virada de pernas para o ar.



numa das passagens do livro, o médico que acompanhou o António fala na serenidade da morte. na tranquilidade da morte.



serenidade e tranquilidade da morte.



eu quero morrer serena e tranquila, de preferência sem dor e sem dar trabalho. o António diz que lhe custava a dependência, sobretudo para ir à casa-de-banho. eu percebo-o, eu percebo-o e assino por baixo as suas palavras. para mim, pior que a ajuda para ir à casa-de-banho era o próprio banho. no hospital foi traumatizante, a cabeça abandona o corpo e limita-se a não pensar em nada. em casa foi doloroso, em pé, nua, lavada com uma esponja húmida, seca com uma toalha pequenina, todos os dias o mesmo ritual, de frente para o espelho, a ver o que a vida me tinha feito. doeu. mais tarde já conseguia entrar na banheira, tinha o banquinho do deficiente, continuava a não saber a banho. durante muitos meses o banho não soube a banho. ainda hoje, volta e meia, não sabe a banho - o banco está lá, em dias de mais dores ou mais cansaço é utilizado. nesses dias tento nem pensar que preciso dele outra vez.



esta lição eu aprendi. aprendi a não pensar muito no que tinha que viver todos os dias para poder ter a dignidade do meu lado. talvez tenha sido a maneira mais fácil para mim de encarar o dia-a-dia.



é verdade, as cores têm mais cor e os sabores são mais apurados, a felicidade vem em pacotinhos pequeninos, as vitórias são diárias, os amigos ganham uma dimensão sobrenatural, a família atinge os limites ilimitados de importância, as ruas voltam a ser novas e há um mundo novo.



ontem fui ao teatro, precisamente ver a peça que o António Feio estava a encenar na altura em que morreu. fui ao teatro e eu sei que ele lá estava, a ver a peça que idealizou, eu senti-o e disse-lhe: "António, eu não deixo nada por fazer,nem nada por dizer, já aprendi a lição. Obrigada António, por me deixares ler o teu livro e me deixares sentir as tuas palavras."

Apanhados na Rede, de Terça a Sábado às 21.30h e Domingos às 16.30h no Auditório dos Oceanos, Casino de Lisboa. Bilhetes de 18€ a 22€. Duração de 2h30 com intervalo.



terça-feira, 19 de outubro de 2010

quero declarar.

quero declarar que fui empurrada e caí. quero declarar que a cara da senhora caterpillar que me empurrou está-me gravada na memória. quero declarar que estou de neura. quero declarar que me dói o pescocinho. quero declarar que os meus primos são loucos. quero declarar que a minha cabeça voou para Marte e por lá vai ficar. quero declarar que menos que um balde de pipocas doces não me curam.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sometimes It Hurts

Às vezes oiço pessoas a dizerem: "o meu Pai nunca me vai desiludir..."

Ou eu sou uma besta, ou sei que qualquer pessoa que está na minha vida me vai desiludir, mais tarde ou mais cedo. Até custa bastante menos se acreditar, à partida, que a desilusão vai chegar.

sábado, 16 de outubro de 2010

Novelo de Lã

O Diogo da Tigresse Margarida perguntou-me ontem se eu, hoje, dava mais valor às minhas duas perninhas a andar.

Claro! Há dúvidas?

Ainda assim, devo dizer que ele me deixou a pensar.
Bastante.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

PEDIDO DE ESCLARECIMENTO

Eu esclareço: eu NÃO tenho o programa, por isso é que ainda não o pus online para todos verem. Quando tiver partilho. PRO-ME-TO.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PORTUGAL NO CORAÇÃO

14.30hrs de 12 de Outubro de 2010 e eu estou no carro à porta dos estúdios da RTP1.
Ainda calma, com um friozinho na barriga controlado q.b., sei que vai correr tudo bem.

Tenho medo de me escangalhar a chorar e não conseguir dizer nem uma palavra, disso é o que tenho mais medo, sem dúvida. Temo pelas minhas convidadas, elas estão nervosas, a Inês se pudesse tinha fugido pela porta dos fundos. Agora que penso nisso, eu também podia ter-me escapulido e ninguém dava por nada!

Sou maquilhada e penteada como uma star, gosto! Olho-me ao espelho e gosto do que vejo, e de repente tenho uma crise de nervoso miudinho a crescer-me nas entranhas.

Sou apresentada ao João Baião e à Tânia Ribas de Oliveira, que tenho a dizer que são fantásticos, muito simpáticos e que não podiam ter-me recebido de forma melhor. Toda a equipa é muito acessível e isso transmitiu-me a calma que eu precisava naquele momento. Olho para o relógio e faltam 23 minutos. Uffa, que só me lembro daquela voz do F.A. no TEC a avisar os minutos que faltavam para o Sonho arrancar... tremo.

Quando cheguei ao estúdio comecei a relaxar, tranquilizei-me com o pensamento que nada podia ser pior que as horas de angústia na primeira noite do hospital, e se aí me aguentei sem lágrimas e ranho também agora tenho que me aguentar. A minha Super Avó proibiu-me de chorar. Meti a pata na poça e deitei uma lagriminha gorda em directo no canal público do nosso país.

(A minha prima Francisca diz que já tive os 15 minutos de fama da minha vida, o meu irmão Manel diz que se eu ficar famosa vende os meus lenços de papel com ranho no colégio... oh família de loucos!)

O programa passa a correr e quando dou por mim já acabou, nem tempo tive de agradecer aos Bombeiros da Corporação de Colares, nem à equipa médica do S. Francisco Xavier, nem à unidade de Neurotrauma do Egas Moniz, com especial atenção ao Dr. Gonçalo e ao Nuno Morais. Aqui fica, mais uma vez, uma agradecimento do fundo do coração.

Quando liguei o telemóvel, já fora do estúdio, tinha as mensagens dos amigos, aquelas que enchem a alma por uns valentes dias e a sensação que tinha encerrado um capítulo importante. Já vi o programa duas vezes, e acho que nos próximos dias vou ver mais 20 ou 30, até me cansar de chorar quando olho para a Senhora minha Avó e relembro o que senti naquela noite.

Obrigada à produção. Obrigada às minhas convidadas!

Maria

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sabem uma coisa? Eu A-DO-REI o João Baião e a Tânia Ribas de Oliveira. Eu A-DO-REI a minha vt na praia com a assinatura do Sérgio Mateus. Eu A-DO-REI encerrar mais um capítulo na saga do pescoço partido.
Obrigada minha Felina.

Amanhã conto tudinho!
Um beijo,
Maria com Portugal no Coração

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

há uma coisa que eu tenho a certeza, todos os dias são felizes.

domingo, 10 de outubro de 2010

estão-me a dar uns nervos que nem sei o que hei-de fazer. só me apetece chorar.
amanhã às 9.30hrs toca-me à campainha a equipa de reportagem.

que neeeervos!

sábado, 9 de outubro de 2010

Às vezes pergunto-me se tudo isto terá um fim definido, um dia em que realmente eu não vou sentir mais nada.

Nem dores, nem dormências, nem choques, nem medos, nem ansiedades, nem pesadelos, nem lembranças.

Se um dia vou acordar de manhã e voltar à inconsciência da felicidade, ao quase desprezo pelo amanhã garantido, ao sonho sem fronteiras. Pergunto-me se um dia apagarei totalmente da memória o acidente.

E depois de perguntar percebo que mais uma vez há perguntas que nunca deviam ser formuladas.

Viva a chuva e os dias de sofá - voltámos ao pensar até à exaustão.


(Algo me diz que este não vais perceber, leitor anónimo)

e esta, hein?

- não podes deixar de escrever no blog porque é a única maneira de comunicares comigo.

- como? achas que eu não sei comunicar contigo sem ser através do blog? eu não tenho o blog para comunicar contigo.

- mas eu só te percebo porque leio o blog. tu não falas.



e esta, hein?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Café Inocente

Há nos corredores a gritaria normal de um liceu, os mais velhos do pavilhão estão nos corredores a ver quem passa, naquele impasse de comentar a vida alheia
Ela repara nele, lá em baixo, no pavilhão A. Aquele ar de menino betinho, o blusão Gant, os sapatinhos de vela, o sorriso maroto, e fundamental, o factor desconhecido. Aquela cara não pertence ali, está à porta de uma sala que não é a dele, e no entanto movimenta-se com a segurança de quem conhece os cantos à casa.
Olha para as amigas, todas elas estão presas no desconhecido miúdo que passeia um capacete debaixo do braço. Num impulso começa o jogo dos recadinho para cima e para baixo, ele é amigo de um amigo, a amiga passa o recadinho ao amigo, o amigo passa ao amigo e o amigo responde. São dez minutos de risinhos e histerismo típico da adolescência.
Toca a campainha, e ainda há tempo para uma troca de olharzinhos nervosos. A aula passa ao lado, qualquer que seja a matéria não vai existir nunca espaço para afastar as cabeças do rapaz novo, ela sabe que as amigas vão arranjar maneira de lhe perguntar o número. Nada disto é discreto. Na selva do liceu há regras, e uma delas é ser-se discreto indiscretamente no jogo do engate.
Trocam-se os números num bilhetinho, é uma questão de tempo até toca o telefone com a primeira mensagem, a segunda, a 35ª que combina um café. Inocente claro.

Aos 13 anos, ela abre o capítulo dos cafés inocentes. Passados dez, ainda não percebeu que os cafés nunca são inocentes. O jogo com o rapazinho desconhecido repetiu-se e repetir-se-á variadíssimas vezes ao longo da vida. Noutros corredores, com outras amigas, com outros factores e sempre o mesmo fim - os cafés não são inocentes.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

já me tinha esquecido o que eram insónias.

como a gaivota

é uma noite normal, os primos reunidos cá em casa, as pizzas amontoadas no chão, os filmes alugados no dvd, coca-cola, pipocas várias e zero programas sociais.

23.45hrs: toca o telefone

- onde é que estás?
- olá xuxinha! estou em casa, conta!
- desce, vamos ao fizz.
- mas eu estou em modo leggings e camida de ganga, é noite de cinema com a família.
- desce! estou a arrancar do Estoril, 5 minutos e passo aí.

...

eu gosto de propostas assim, gosto. adoro quando me dizem que tenho 5 minutos para arrancar de casa, mesmo quando o corpo pede cama e a cabeça está no filme a seguir. gosto de poder ter esta liberdade de arrancar com a roupa do corpo, marimbar para o kit noite e arrancar.

gosto de me sentir livre.
gosto de saber que sou livre. independentemente de no fim do dia, quando a cabeça chega à almofada, o coração ficar pequenino e acelarado. eu sou livre. mesmo quando os raptos inesperados podem resultar em encontros inesperados.

eu sou livre. como a gaivota.

domingo, 3 de outubro de 2010

o que os domingos têm de deprimentes, também têm de românticos.